23 de abr. de 2014

MARIA DE TODAS AS SANTAS

Maria estava sem graça, e com desgraça latente e palpitante.
Desígnio, pensou Maria, mal feito, é coisa de estreante,
Um motejo, coisa de ‘Deus quem quis’.
Ah, mas isto não é cabível, deve ser um mal esquizofrênico.
Acreditou até que fosse algo raro, algo endêmico,
Algo como o ditado, ‘ver pra crer’.

Maria confessou ao padre e a Deus, mas era inglória, a vadia.
É a cruz, pensou Maria, é destino, coisa daquele dia,
Quiçá foi um engano, ‘diz-me com quem andas...’
Ah, que infortúnio, deve ser mal crônico, hereditário.
Um deslize, coisa frouxa, mas digno de comentário,
Por assim dizer, ‘hoje é tão comum.’

Maria, toda afetada, exibia à laia seu porte donzel.
Espúrios, pensou Maria, querem meu nome no fel
É um contraste de ilusões, ‘contar estrelas...’
Ah, isso é inanição da alma, é uma aberração,
Foram uns minutos sem gosto nenhum, e agora essa apelidação.
Que se diga, ‘a Maria vai c’asotras’!

Maria, na sua aflição, não é trouxa nem assombrada.
Inventice, pensou Maria, coisa de mulher desgarrada.
Pode ainda acontecer esses ‘casos de milagres...’
Ah, isso não tira sono, é só suspeita, é teimosia,
Mas sentir esse garrote no peito é uma agonia.
Então no frenético raciocínio, ‘o que foi será...’

Maria sentiu-se roliça na sua vaidade de mulher moça.
É desatino, pensou Maria, a vida é que é insossa.
Preferível é cantar, que se vá ‘ao Deus dará’         
Ah, isso é degradante, todo suplício nada adiantou,
Pose desnecessária, a Maria engravidou.
Que se diga agora, ‘quem planta colhe...’.