Não são enfadonhas as fadas
nem meus sonhos, no entanto,
também não decidi se devo acreditá-las...
Mas quem sou eu para duvidar?
O que sou eu, senão uma mera existência?
Não sou todo o Universo,
mas parte dele.
Não sou uma quimera,
e no entanto, dota-me a fé e a fantasia
se for acreditá-las.
Admito que me façam bem,
mas neste mundo vive-se de esperanças,
e da esperança fazem-se os sonhos,
dos sonhos à fantasia,
da fantasia, reinos encantados.
Vivemos a contemplar o que nos convém,
não por fraqueza, mas por devaneios.
Ainda não sei se posso vê-las,
ou se elas me veem...
Ou se posso apanhá-las.
Quem sabe a surpresa encolhe-se de espanto
ao ver que não acredito.
Ah, brinquemos de ser crianças,
enquanto a criança vive a verdade,
admito minha infância.
Martírio esse, que Deus nos infligiu
permitindo tão pouco tempo de fantasias...
O tempo foi curto.
Hoje quero ver as fadas e não posso.
Minha inocência está borrada de tempo.
Turva-se no crer e o não crer.
Há um minúsculo hall dentro de mim
com uma fraca luz dissimulada,
confusa,
parece porta, parece janela
impossível chegar até lá,
é como regredir no tempo,
de lá não volta, só anda
ou me persegue...
sei, lá no tempo é que moram as fadas.
Nesse tempo, que às vezes estou à frente
às vezes estou atrás...
Mas sei que ando na direção de onde vim,
para aquele que apostou na minha inocência,
que não deixou a falta de ilusões me agredir.
Que fez-me optar pela fé,
ofertou-me o sol como esperança,
convenceu-me da serenidade da Terra,
abraçou-me de luz,
questionando-me a alma
em cada passo desses mistérios.
Os astros não residem tão longe,
porque ainda capto seus brilhos.
Capaz ainda, o pensamento
de solucionar grandezas,
tão perto está a incógnita!
Iludem-me os dias, as horas...
E esvaem-se sonhos,
lembranças, fantasias...
E por que as fadas têm asas?
Acaso nutrem-se do mel da imaginação,
de nossos doces devaneios?
Ludibriam nossas fugas com carinhos,
e nos poupam a dor da realidade?
Fantástica incerteza!
Irei questioná-las.
Questionar a mim,
questionar aquém e além
daquilo que não enxergo.
Pedirei aos poucos
aquilo que perdi há muito,
mas não implorarei por mais dúvidas,
porque ainda possuo no tempo
um espaço para sonhar.