Quando pisei nesta
terra, ela não era a Terra.
Minhas eras
despacharam-me com medo e fome e vi o tempo de várias cores, desertos em dores,
sem flores...
Pensei em ficar de
pé, mas o peso da vida subjugou-me. Sentei-me na pedra mais alta, e aprendi a
orar com um punhado de seres que, com alma e sem calma se punham a fluir em mim
doando a vida que me fugia.
Tão dolorida foi-me a
espera, sem saber de horas, dias... Chorei em dança, sendo ainda criança, só
tinha olhos para a claridade, não sabia que existia uma Luz, assim me pus a
caminhar ereta, sem trilhos, vínculos ou ditos.
Abracei-me às árvores
como ninhos de pássaros, nascendo assim em mim um alvoroço em todos os passos. De
asas curtas vislumbrei uma parte da eternidade, foi quando anoiteceu. Alarmada,
desamparada de todas as canções, joguei-me no regaço dos deuses.
Uma morada em cada
estrela. Assombrada e sem lucidez ouvi em prantos as histórias das pedras, da
água, do fogo...
Ao despertar dessa
noite, caiu em mim o Universo, como um ser perverso, adiantou-se e alimentou-me
com o doce da esperança.
Hoje, meu jugo dobra
minhas tentativas de alçar voo, porque doei minha vontade ao futuro, e este é
fruto imaturo, jamais o saberei se não alimentar as hostes de plantas e animais
até suas raízes, com minha célere avidez por vida.
Assim, onde o mundo
que chamo meu, não é ateu, e até onde alcança a vista, embala-me uma alma
panteísta sob os segredos desta Terra de agora, que além da aurora, pode voltar
a ser somente terra.
Nada descansa em mim,
nem a soberana fé de crer ser eu, um ser criado para criar. Somente um contato
ínfimo, traz-me a serena candura das aragens, que exalam divinas texturas da
vida crescendo. Ainda insisto, porque não será morrendo que se perde esta
visita, que de tantas idas e vindas ao Universo não finda.
Agora, os homens
aniquilaram suas próprias imagens, que foram codificadas com suas têmperas de
coragens. Vão-se os nichos para os lixos e, lamuriantes, as vestais não mais
adivinharão o amanhã, porque os homens, em suas diversidades, não saem mais das
cidades.
Insípido será o
porvir, sem ar e mar; sem o pipiar de qualquer ser, seja o do saber ou o do não
saber.