Foi no Museu da Casa de Pedra que descobri Caxias do Sul.
Na época, minha filha contava seis anos e levei-a para o Museu, sentei-a
num banco de pedra e bati a foto. Digo ‘a foto’, porque a partir dela enraizei
meu coração aqui. Esta foto transmite uma saudade daquilo tudo que meus
antepassados viveram.
Adentrando ao museu ouvi os passos da mamma, sua voz com todos os apelos
que só um filho conhece.
Da janela, então, me senti um espectro, realidade e passado cruzando-se
no asfalto... Pensei não haver cabimento em tanta mudança.
Quantas vezes mamma e papà estiveram a contemplar desta janela as matas,
os pinheiros, os parreirais, o rio Tega... Um paraíso através de uma janela.
Mas o paraíso não satisfaz os homens que voam para arranha céus, ele, o homem,
não sabe contemplar. Ele pensa, e tanto pensou que nossa cidade é uma
metrópole, e continuamos a pensar.
Hoje, vamos aos museus para contemplar.
Ah, sim, eu bati uma foto da cascatinha do Tega, antes que o
canalizassem, e já na época, ele estava poluído.
É triste? Não sei, O progresso é utópico. Agora, como nossos
antepassados, devemos avançar.
Caxias do Sul é um berço carinhoso, que ainda embala projetos audaciosos
aos cuidados de gente capaz, pessoas que gostam de surpreender.
Podem até achar Caxias do Sul um tanto provinciana, mas quem se queixa?
Deve-se a isto, talvez, o orgulho por suas conquistas, que asila em seus
interiores.
Ainda está em ascensão, basta andar pela Avenida Júlio de Castilhos, de
seu início até o final, ou seja, até o Monumento dos Imigrantes, que tudo o que
vislumbramos é um movimento de continuidade. Ouve-se um loquaz diálogo entre
passado e futuro e uma balbúrdia de lamentos onde cai uma árvore e finca-se uma
pedra... E isto dói no povo, dói na terra, mas como não se frita ovos sem
quebrá-los...
Penso que este povo caxiense deve viver num condomínio, mas não pode
esquecer suas videiras.