28 de fev. de 2014

COLHEITA

Quando eu pedir conselhos é porque não mais saberei andar só.
E na velocidade da minha existência serei inigualável caule,
Já não terei calma nem saudades, mas sementes ao léu.
Serei um naco que frutificou olhando para o céu.
Passa por mim toda existência sem a medonha cratera do medo.
Ah, se os que me acompanham tivessem raízes longas!
Daria em pencas o pouco que sei de mim finita.
Neste momento, o que mais cala é o que grita.
Colher da terra como colher da alma todo broto da esperança.
Pedir assim, que abram um poço, os que nada veem,
E dentro dele, gota a gota, ver jorrar amiúde, sequelas.
Disfarçando do mau plantio, todas as mazelas.
Cabisbaixo vai o pensamento envergonhado e árido.
Tanto questionou, e todos responderam afirmativamente.
Errou a previsão de meu tempo, deu sempre a dúvida.
Deveria ter esquecido no poço a sede súbita.
Nem todos os frutos dão sementes visíveis.
Mau conselheiro foi meu instrumento de plantio.
Conhecerei então, somente algum rebento.
Deixando para o amanhã, meu tempo.
Os que trazem ao colo sua colheita.
Colorida, ou desprovida de fartura,
Alhures, para mim é demasia,
É pouca, toada de poesia.
Vou indo embora pequena,
Abraçada no porvir,
Na imensidão
De uma mão.
Sou eu e Deus.
Terra e semente,
E a água escassa
A vida
É ida,
A volta, sou eu.