28 de fev. de 2014

ESTRELAS DE VIDRO

Estive a chorar ao quebrar bonecas
Sorrir, para o palhaço alquebrado
Correr dos raios da tormenta

Estive a cantar imitando as pererecas
Gritar, para o olhar distanciado
Implorar a Deus, que tudo inventa

Estive a rodopiar em discotecas
Infringir ordens de um condenado
Beber a água que não estava benta

                     *******
Estive a navegar num mar todo moído
Naufragar no tempo e na queda
Agarrar todos os soluços a barlavento

Estive a sondar o homem aguerrido
Roubar seu sonho e sua pouca moeda
Corromper meu sono jogado ao vento

Estive a orar e adjurar pelo tormento
Lastimar a vida caída na pedra
Descobrir que as estrelas não são de vidro.


COLHEITA

Quando eu pedir conselhos é porque não mais saberei andar só.
E na velocidade da minha existência serei inigualável caule,
Já não terei calma nem saudades, mas sementes ao léu.
Serei um naco que frutificou olhando para o céu.
Passa por mim toda existência sem a medonha cratera do medo.
Ah, se os que me acompanham tivessem raízes longas!
Daria em pencas o pouco que sei de mim finita.
Neste momento, o que mais cala é o que grita.
Colher da terra como colher da alma todo broto da esperança.
Pedir assim, que abram um poço, os que nada veem,
E dentro dele, gota a gota, ver jorrar amiúde, sequelas.
Disfarçando do mau plantio, todas as mazelas.
Cabisbaixo vai o pensamento envergonhado e árido.
Tanto questionou, e todos responderam afirmativamente.
Errou a previsão de meu tempo, deu sempre a dúvida.
Deveria ter esquecido no poço a sede súbita.
Nem todos os frutos dão sementes visíveis.
Mau conselheiro foi meu instrumento de plantio.
Conhecerei então, somente algum rebento.
Deixando para o amanhã, meu tempo.
Os que trazem ao colo sua colheita.
Colorida, ou desprovida de fartura,
Alhures, para mim é demasia,
É pouca, toada de poesia.
Vou indo embora pequena,
Abraçada no porvir,
Na imensidão
De uma mão.
Sou eu e Deus.
Terra e semente,
E a água escassa
A vida
É ida,
A volta, sou eu.

27 de fev. de 2014

ALENTO

Perdi o rumo da graça
De ser feliz
Quando senti o olhar do medo
Nos olhos dos inseguros
É assim que se morre

Perdoem os felizes
Pois os que tem tristezas
Precisam chorar
Perdoem os milionários
Pois os pobres
Precisam implorar

Vem destruída e abandonada
Esta lamúria
Que dói tanto na alma
Que até o sorriso
Fica-me sério

Perdoem os festeiros
Pois os sóbrios de ilusões
Precisam sonhar
Perdoem os crentes
Pois os ateus
Esqueceram de orar

Assim que finda o mundo
Numa dor sem zelo
Num afago excluído
Num abraço de espera
Onde ruma o conflito

Perdoem os otimistas
Pois os desalentados
Querem só a certeza.
Perdoem a má fé
Pois os de bom coração
Ainda amam com pureza

26 de fev. de 2014

VISITA

Quando pisei nesta terra, ela não era a Terra.
Minhas eras despacharam-me com medo e fome e vi o tempo de várias cores, desertos em dores, sem flores...
Pensei em ficar de pé, mas o peso da vida subjugou-me. Sentei-me na pedra mais alta, e aprendi a orar com um punhado de seres que, com alma e sem calma se punham a fluir em mim doando a vida que me fugia.
Tão dolorida foi-me a espera, sem saber de horas, dias... Chorei em dança, sendo ainda criança, só tinha olhos para a claridade, não sabia que existia uma Luz, assim me pus a caminhar ereta, sem trilhos, vínculos ou ditos.
Abracei-me às árvores como ninhos de pássaros, nascendo assim em mim um alvoroço em todos os passos. De asas curtas vislumbrei uma parte da eternidade, foi quando anoiteceu. Alarmada, desamparada de todas as canções, joguei-me no regaço dos deuses.
Uma morada em cada estrela. Assombrada e sem lucidez ouvi em prantos as histórias das pedras, da água, do fogo...
Ao despertar dessa noite, caiu em mim o Universo, como um ser perverso, adiantou-se e alimentou-me com o doce da esperança.
Hoje, meu jugo dobra minhas tentativas de alçar voo, porque doei minha vontade ao futuro, e este é fruto imaturo, jamais o saberei se não alimentar as hostes de plantas e animais até suas raízes, com minha célere avidez por vida.
Assim, onde o mundo que chamo meu, não é ateu, e até onde alcança a vista, embala-me uma alma panteísta sob os segredos desta Terra de agora, que além da aurora, pode voltar a ser somente terra.
Nada descansa em mim, nem a soberana fé de crer ser eu, um ser criado para criar. Somente um contato ínfimo, traz-me a serena candura das aragens, que exalam divinas texturas da vida crescendo. Ainda insisto, porque não será morrendo que se perde esta visita, que de tantas idas e vindas ao Universo não finda.
Agora, os homens aniquilaram suas próprias imagens, que foram codificadas com suas têmperas de coragens. Vão-se os nichos para os lixos e, lamuriantes, as vestais não mais adivinharão o amanhã, porque os homens, em suas diversidades, não saem mais das cidades.
Insípido será o porvir, sem ar e mar; sem o pipiar de qualquer ser, seja o do saber ou o do não saber.



25 de fev. de 2014

O ENÓLOGO

O enólogo faz um monólogo.
Para um bêbado em folguedo
Não mete medo.

Degusta e faz cara que assusta,
Como se néctar fosse,
O vinho sem ser doce.

Impressiona a matrona.
Entorna a taça aos santarrões,
Para uma platéia de bobalhões.
E a qualidade fica para a irmandade.

Suspira, cheira e respira.
Vira os olhos com maestria.
Fica bêbado sem ousadia,
Para testar o líquido sem aprovar.


24 de fev. de 2014

ESTAÇÃO DO PÓLEN

Parece que esta chuva não cessa
Quando a espera namora o tempo
Todo encanto socorre na pressa
De um pólen que espera pelo vento

E, se farta a mágoa de quem chora
Derrama a sina pela janela
Então é uma estação que demora
Porque deixa a lágrima mais bela

Assim pássaros voam com calma
Acariciando a nuvem inquieta
Que faz morada no peito e na alma

Na estrada muda, cai a chuva fina
Saciando estações e toda a vida
Ninando o pólen que lá germina.

21 de fev. de 2014

CONSOLAR


Sem chorar,
Vou crer que me indaguem,
Sem pedir, aceitarei que me injuriem...
Peça, então, que o justo te ampare.
Não possuo a culpa
Da falta de paz,
Mas tanto faz,
Se chorares por injustiças.
Indagarão teu sofrer,
Vou orar,
Com o pêndulo para o lado da dúvida,
Colocar a fé entre o verbo e o oculto,
Mas vencido, é certo que te apóiem.
Não importa,
O tempo é porta.
Encontrarás as cortinas limpas
Nas janelas abertas.


20 de fev. de 2014

NASCENDO

Parece que consumi todas as palavras
Tentando descrever a alma de um inocente
Mas ficou evidente
Que a mim não compete
Explicar o que está definido
Porque nada na vida se repete

Ao extremo vai o doce riso
Até onde a fé de uma criança alcança
Saltita e dança
E a mim não interessa
Tolher-lhe um mundo tão particular
Porque crescer ela tem pressa

Traz ao colo um animalzinho
Como o Universo carrega as Eras
Adentra no mundo sem guerras
Que em mim não acreditará
Se indicar-lhe todos os caminhos
Porque atalhos sempre encontrará

De algoz e salvador
Passará pela vida intrincada
Carregando muita dúvida trincada
A mim pedirá amparo
Porque de filha passo a ser mãe
De um amor que para Deus é caro.

19 de fev. de 2014

A SERPENTE DA TERRA

Não vou disputar a vida em guerra.
O dia está morrendo
A cada momento.
Este é um tempo sem descanso.
Envolve o amor.
Alguns falam dele com dor...
Eu canto.
Eu, sem pudor
Juro, adormeço na terra,
Agarrada à imensidão de sonhos,
Que me chegaram correndo
Sem palpites,
Sem honorários ou tormentos.
Pior que maldade
Sagaz, esta inóspita deidade
Cuspiu de sombras as luas.
Por fealdade ignoro,
A serpente que avilta o guerreiro,
Sibilando dúvidas cruas.
Sábia, vil e alerta peçonha.
Eu te encanto a ousadia.
Não tens vergonha
De possuir um ventre redondo,
De acariciar o solo,
Nem rastejar por ninharia,
Por ti e por mim,
Não disputo a vida em guerra.




18 de fev. de 2014

HÁ DIÁLOGO NO PARAÍSO

Quando eu chegar ao paraíso
Estarei nua e coberta de surpresas
Estarei a gestar-me
Porque chego sem pedir licença
Passarei a escutar-te
Porque estarás a rir do tempo
Tu, que marcas presença
Nas chegadas e partidas
Agora que chego ri do momento

Veja que nas nuvens há fendas
Meus passos ainda deixam marcas
Cheguei para unir-me
Deixar-me tocar pela verdade
Não mais repousarei sem descanso
E tu, me oculta o teor do infinito
Justo agora que alcancei maturidade
Queres dar-me as consequências...
Mas em meu livro tudo está escrito

Quando eu chegar ao paraíso
Andarei pelas flores já cultivadas
Ouvirei sussurros dos colibris gordos
Criados nos dias que tanto esperei
São feitos de arco-íris
Rebentos de sonhos sem nostalgias
E tu, ri porque sempre chorei
Meu coração sempre parou nas manhãs
Perdoa, mas alço meu voo com ousadia

É simples, mero, meigo...
Compartilho um pedaço da asa de um anjo
Num gesto de adeus
Esta casa não me é estranha
E tu ri das minhas conjeturas
Não chego para morrer abandonada
Sem berço, sem mãe, sob a eterna montanha
Esparramo minh'alma numa prece
E tu a rir...Diz-me, bem vinda minha amada!


17 de fev. de 2014

LUAR DA MANHÃ

Manhã, colibris astutos e vaidosos
Fendem a madrugada ainda enluarada
Provocando as chuvas nos raios idosos

Lua, com cara de esperança sonolenta
Tenta ludibriar o sol todo airoso
A invocar a obscena loucura da tormenta

Ainda que o escuro descrevesse a morte
É provável que o dia conquiste outra consorte
Quiçá seja andarilha do norte

Uma preguiça adivinha e pagã
Trazendo a astúcia para virar o vento
E guardar n'alma o luar da manhã

15 de fev. de 2014

DESENCANTO

Vou de encantos e de encontros,
Abismada com tantas janelas abertas
A fazer-me festas,
Tantos crimes, tantos contos.
Venho de amores imaturos e obscuros,
Qual poeta relapso,
Descartado de seus atos, desnutrido de créditos,
Palmilho incerta a palavra que ganho,
Dos que se insinuam a cativar amor estranho.
E desse olvidar e amar
Custa-me a vida,
Que derradeira se esgueira
Pelos beirais do romantismo.
E se lamento a perda, cobre-me o lirismo,
Então desencanto, mas seco o pranto,
Fatigada com pouco ou nada,
Sou um peitoral de janelas,
Que só deixaram-me frestas
Por onde agora passa uma réstia,
De um amor que julgou o tempo, e só fez festa.
Ainda tento fechar a janela,
Após tantas lutas e querelas,
A mirar a morte escrita numa Estela.

14 de fev. de 2014

CERTO PARENTESCO

Existem conceitos para tudo. 
O ser humano é um conceito, e por certo, dentro de cada capacidade faz-se a própria personalidade.
Existem idades, por exemplo, que são eternas, são as amizades. Conta-se o tempo citando um amigo, porque amigo, tem existência sobrenatural.
Não seria normal se esta idéia fosse cabal. Não haveria nem romantismo. Como um grande amor se faria entender se não confessasse a um amigo?
Há que se deixar apaixonar, sem se queixar. A vida a rodar... Ver tudo passar. Despir passagens imaturas, furtivas e até pouco adultas, confiadas aos cofres secretos dos amigos.
Quem duvida que amizade não seja fraterna? Pode não ter mesma origem materna, mas o encanto da lealdade nesta amizade é quase consanguíneo.
A companhia é diáfana e real.
Amigo que tem amizade, mesmo ausente está presente.
Amigo sempre marcará encontro, no agora ou a milhares de distâncias, porque se houver dor, ele a juntará e a devolverá em esperanças; se houver mágoas ele a moldará em serenidade.
De lágrimas e sorrisos só amigos entendem, se caíres ele mente. Porque só amigo te erguerá de frente.
Vai acolher teu desânimo e coroar-te de fé.
Amigo não tem ciúme, tem apreço.
Amigo, se tens um amigo, faça dele um irmão. Se teu irmão não quer ser teu amigo, faça dele teu parente mais próximo.
Vejo na amizade, o consolo de braços dados com a honestidade apoiado na segurança.
Lembrar de amigo é quase verga hereditária.
Está aqui ou só na fotografia... Pode ainda não voltar.
Mas quando retornar, juntos passarão pela mesma porta. A confiança.


12 de fev. de 2014

EDUCAÇÃO

Este pleonasmo que nos acerca ano após ano chega a ser uma platonice, aquela espera com sabor de alguma coisa boa que possa acontecer. Minha frase para a nossa política. Sinceramente, sou cética. O povo deve mudar. Porque é deste ‘o povo’, o que esteve e está no poder. Então é ‘o povo’ que não tem educação nem preparo.
Não vou citar datas, nomes... As pizzas são grandes e os cofres também.
Por onde devemos ensinar o povo? Através da educação. Ah! Dirão alguns. Mas as escolas hoje em dia... Verdade, em se tratando de instrução e preparo, está uma merda. Escola vai ensinar calcular, mas será só em números; vai ensinar a dividir, mas não vai lá no meio da miséria e dizer, teu prato está cheio, reparta; vai ensinar a subtrair, mas sem noção de quantidade; não vai ensinar a usar o raciocínio para que te perguntes onde vai tanto imposto; vai ensinar a somar, mas não vai conseguir te fazer entender o porquê da necessidade dos homens do ‘povo’ somarem tanto para si próprios; e na multiplicação, observarás que poucos tem tudo e a maioria nada; não vai conseguir te orientar em cidadania porque o consumismo cria barreiras. Terás acesso a bons livros, mas se não tiveres educação, o pó permanecerá neles. E a escola vai te ensinar história, que em certas partes, creia, é estória. E tudo por falta de educação. Não há preparo profissional porque os que deveriam preparar não têm educação. Vai te instruir numa religião, mas qual é a tua?
Não vai dizer, por exemplo, tenha fé e amor para com teu próximo, ora, isto é repetitivo demais. A escola não vai te educar não. Vai te ensinar a ler, escrever e calcular tão somente, porque educado já deves sentar nos bancos, e aquele(a) professor(a) que está em frente ao quadro negro, deverá ter passado também pela EDUCAÇÃO.
Não pretendo ofender, e quero deixar bem claro a que educação me refiro.
Toco numa ferida que, hoje, nem a medicina tem a cura: FAMÍLIA. Simples. É dela que brota, vinga ou morre a EDUCAÇÃO. Não dá para se ofender. Perdemos a família para a mídia, para as posses, para o consumismo e para o confuso conceito de relacionamento (homem/mulher) que está vingando por aí. Itens absurdamente sem volta.
Não acredito que retroaja, o homem, por sua espécie esnobe. Jamais vai descer, cair, sim. Estamos todos caindo.
Quem quer constituir família deveria acompanhar o cio dos animais, nascimento até a idade adulta dos filhotes. Chacota? Não. Nós caímos, lembras?
Quem quer filho deveria pensar em grandes homens e grandes mulheres, mas com capacidades humanas e não abobalhados em shopping, modas e sexo. E que de abobalhados ficam com caras de idiotas, ‘emos’, ‘patys’, p...
Ética, moral, atitudes e comportamento, isto se aprende num lar. O lar é a escola vital onde a criança vai ter a primeira experiência como ser pensante. Se os que estão no ‘topo’ – os pais – não querem, ou ignoram, o que seja educação... Então é difícil espelhar-se no longo caminho que irá trilhar uma criança, e sua melhor escolha não será o pensamento, mas a oratória, ou seja, em nossos dias: papo, muita conversa.
Não necessitamos de muitas palavras, mas de pessoas que raciocinam antes e diante de tudo, e para o bem, porque para o mal... Já estamos lá no fundo do poço. Ainda podemos subir se tivermos a mão da vergonha a nos erguer.
‘O povo’ precisa de pai e mãe que tenham cérebros elevados e crenças sadias. Que saibam segurar a mão de seu(s) filho(s) como se as conduzisse para apanhar as benesses que o Universo nos ofertou. Ensinar-lhes a juntar as mãos para orar e abri-las para doar, que seus pés não sejam moldados somente para calçados onerosos, mas possuir a primazia de usá-los para saber andar na retidão. Que deste lar (abastado ou humilde) possa surgir preparado para a instrução primária, fundamental, superior... Chegar à escola para aprender e conquistar uma profissão, e bem antes de chegar lá, já estar educado para ser honesto e ter noção de respeito.
Se o professor não tem educação, também não saberá instruir e preparar um aluno. Educação não é só gentileza, é muitas vezes atitudes bruscas, como dizer não, virar as costas para o que não condiz com o correto, evitar desonestos, agiotas, trambiqueiros, caloteiros, mentirosos, ladrões... Educação é também saber que quando se lê um palavrão não significa que quem escreveu ‘praticou’ o palavrão. Merda é cocô, quem não faz? Limpar-se e saber limpar, é que são lá as coisas.



11 de fev. de 2014

VIDA

Viver é tão simples, que quase fica sem nexo falar da vida.
Há pessoas que vivem bem, fora de si, mas consigo mesmas vivem aos trancos. Há os que pensam na vida como se fosse uma biologia de laboratório, um surgimento cotidiano.
Penso que na vida só há vida, logo, se viva estou, vivo a vida.
Existem os gênios precoces que se atolam em si mesmos, em arrogâncias e pieguices, nem iniciaram a vida, só têm vida. Vida é sentir outras vidas, eu diria. Mas não seria compreendida, seria uma realidade moderna, não uma verdade, na opinião deles. Porque eles leem Sócrates, Kant, Platão... Conhecem a China ou a Índia... Ou então frequentam a sociedade como renomados profissionais de perfis famosos... Ou tocam um instrumento, cantam, escrevem letras de música... Conhecem várias biografias...
Mas eles dizem ‘conhecer’ a vida.
Há muito desafeto neste conhecimento, porque se entendo de vida, a vida não tem mistérios, não é rica, não é pobre, nem feia, nem bonita, nem poderosa, nem incapaz. Tem a face perfeita como o nascer do sol, mas também traz uma idade eterna no fim do dia, quando de repente este dia fica idoso. Ainda é vida, ninguém padeceu porque findou o dia.
Agradecer à vida? Qual! Não fui eu que a escolhi, foi ela que me escolheu. Continuo surpresa, pasma, com os braços carregados de sua pujança. Não vou agradecer. Vou preservá-la. Vou reparti-la, se preciso for. Tenho tanta vida, mas tanta vida, que se o mar me tragar, ainda haverá todo o Universo para me espelhar. Esparramar uma pequena centelha de luz, que é vida.
É tão simples viver, que um simples sorriso descreve a existência.
Quando a cabeça dói, é porque há vida. Até na dor se vive, ironicamente, só grita de dor quem está vivo...
Quanta estupidez pensar em prolongar a vida! Ela não tem fim.
Nossa massa cinzenta é uma meleca de prepotência, porque acha que preservar a vida é permanecer na juventude. É o mesmo que tentar cavalgar uma borboleta.
Queria saber, e penso que alguém sabe a resposta, por que as pessoas escondem suas vidas atrás das aparências, status, poder? Literalmente elas não vivem o que são, mas para ser alguma coisa. Digo que elas não são vida, vivem somente.
Vida é olhar para o próximo e sentir que ele é vida e não uma batalha comercial, um petisco, um negócio, um qualquer...
Não foi a sociedade que deixou os homens perder tanta vida, foram os homens que se equivocaram ao fazer sociedades, deixaram suas vidas e se juntaram aos comércios.
Para falar de vida, não há necessidade de eloquência, nem de vocabulários sofisticados... Vida não se fala, nem se escreve. Vida se impõe.
Vida é tão frágil que pode trincar numa manobra brusca de insensatez, num prelúdio infeliz. Mas é tão forte que tem selo de garantia, e este se chama Amor. É tão intensa e verdadeira, que até chamam de Fé.
E quando se fala de almas imortais é provável que se fale de Deus... Num sussurro, que parece que estamos compondo o restante do Universo, tal a vida para ser vivida.

Por favor, vida não é servida em bandejas, mas ela pode ser até cheirada se, por um acaso, conseguir senti-la de verdade bem ao teu lado.

8 de fev. de 2014

EXTRAVIADOS


Aqui nos parece que o Universo é o mergulho para a escuridão
Aqui nos entristece toda perda dos que se vão
Aqui nos parece vida e servidão
Aqui nos padece a gratidão
Aqui nos envaidece um dom
Evanesce, de antemão, toda a vida que perdemos para os charlatões
Desaparece com pesar a cultura para com o amor e perdões
Desaparece com pesar toda história em reuniões
Desaparece com pesar o encanto das monções
Desaparecem com pesar todas as dedicações
Somos uma caravana de caprichosos iludidos, partidários de toda esperança
Somos uma caravana de detentores ferrenhos em resguardar sua criança
Somos uma caravana de amedrontados e sem lembrança
Somos uma caravana infinita de andança
Somos uma caravana sem aliança
Aqui esperamos a paz
Caluniada, abençoada, e até bandida
Mas sem construí-la...
Aqui perdemos nas guerras
A flor e a vida
Aqui cruzamos os braços
Sob a arrogância
Aqui padecemos inocentes
Sob a vida a nos espreitar
Aqui vivemos sonhando em ser estrelas...