22 de jun. de 2014

AS ÁRVORES



As árvores, as grandes árvores, com seus lenhos duros, firmes e tão solitárias, parece-nos que não vivem...E o homem cá embaixo olha para cima e se pergunta: será que só elas falam com Deus?
            A pequenez de uma vida, que se alastra por anos e anos, não alcança jamais a magnitude da árvore, porque a árvore decrépita, antiga, idosa...Será sábia sempre. Sua descendência nasce sábia, cresce para o sol e vigora como exemplo. Assim nos parece.
            Há o espaço para o homem onde ele vive e deve demonstrá-lo, assim, como a vida, até seu último ato, até cumprir sua última tarefa, tal um engenheiro, que laboriosamente mede em cálculos suas metas.
            Que não seja a desculpa ou a pior saída, para se fugir do que nos é dado, do que nos é devido, atribuições que conhecemos, mas oculta-se através de omissões. E após ditoso tempo, dedicar-se tão somente a mirar o topo das árvores, mas também saber olhar para baixo e ainda ter a capacidade de orientar a pequenina raiz que nos escapuliu do plano. As árvores, já não podem fazer isto.
            Desde o início fomos tudo, além de planos e devaneios. Engenheiros verdadeiros, o tempo nem era pouco, nem era apreciado. Era uma aragem, só contava, mas agora ele nos carrega, e nos deixa sem ferramentas, e a decrepitude nua nos faz ver senilidade em tudo. Parvo desafio! E a árvore está lá imponente. Será melhor que nós? Não, por certo. Há uma diferença, e até uma distância, ela mora com a inércia, não saí de seu ‘habitat’. Nós temos o poder da locomoção e andaremos com a dignidade que armazenamos através da experiência agarrada a consciência, será o momento de despejar o que vivemos, esbanjando sabedoria nas mãos da sinceridade e até com uma certa inocência, porque é assim que nascemos.
Mas foi preciso muito lamento para se saber algo, e pouco se aprendeu. Agora, num canto desta existência, existe uma construção, é necessário mostrá-la, porque do lado de fora ela pouco significa, mas do lado dentro existe muito conforto...É o lar de nosso Eu, que jamais esconderá o porvir. Passando por um árduo desafio não foi notada a presença do tempo, que se esvaia e pedia calma, foi sufocando e suplicando paciência para se preparar boa terra, semear fortes sementes, para colher frutos sadios; nem todos os frutos nasceram sãos, assim como não houve tanto preparo da terra. E o tempo sempre nos alcançou mesmo assim; bastava olhar para trás e via-se muito passado, era só descerrar o véu da vaidade. Este véu é pesado, sempre será.
É um engenheiro esse tempo! Seu manual só tem duas páginas, uma que inicia e uma que termina. A que inicia já foi decorada, a que termina está sendo ainda estudada, um tanto complexa, mas está em boas mãos. Mãos que ainda vem e sentem a distância próxima, porém, ainda é possível moldar a forma da existência e deixar para as pequenas raízes uma trilha, uma pista de um bom néctar e de uma visão mais sincera e autêntica.
As árvores sempre olharão para o sol, mas nós podemos olhar para o Universo, e mesmo assim, só olhar, porque possuí-lo, só bem perto de Deus.