28 de out. de 2013

ESTAÇÕES

              
As primaveras deitaram-se com os outonos
e gestaram serenatas,
flores,
brisas
ventos fortes
auroras...
Os verões, todos varões,
amaram em demasia as areias já gestadas.
Nasceram-lhes os desertos,
faróis
naus
maresias
luxurias vadias...

Os invernos não querem descendentes.
Enamoram-se da quietude.
Infiéis às estrelas,
lacaios da madrugada,
enganam a solidão
Sonhando com as neves...

O ser humano ama o que lhe toca o coração.
Os animais amam o que lhes resta do homem.
Se nada sobrar,
às pedras vão-se os caminhos.
Nem a lua encantar-se-á com o sol,

nem o sol cobrirá a lua.

17 de out. de 2013

INSANIDADE

Ainda falta ouvir os inocentes
No julgamento das insanidades
Mas eles foram dormir...
Que triste ouvir a sentença do destino!

Falta ao que ainda não chegou
Uma cadeira a sabia mesa
E um pedaço de pão...
Ou então, quiçá, a piedade servida em pedaços.

Às lembranças dão-se alcunhas
Porque a noção de amor repousa
Como uma ré...
Maria ou José condenam-se à prisão ou a fuga.

Quão nostálgica é a saudade presente!
Uma insanidade maldita
Que corta o intento.
Neste sedento destino que anda na contramão...

Nem o avesso da lua me conforta
Posto, que deste lado haja juízes,
Que vivem nus
Com diplomas crus, mal passados na sabedoria.

Ainda falta ouvir os inocentes
Que dormem sobre a loucura
E ao despertar
Um louco vai chorar com um sorriso roubado...

11 de out. de 2013

MARUJAR



Não pensa, não pesa, não mate o tempo.
Um dia, qualquer hora,
O vento sopra ao contrário,
A proa encosta na popa.
Nem a bússola vai te encontrar,
Não geste o sofrimento.

Se te alegram as velas da tua nave,
É porque navegas na liberdade.
Nada sabe o mar inocente
Dos astros que te guiam.
Eles entendem o esquecimento,
Mas tu, marujo, nada sabe.

Quando a solidão fabrica sons no universo,
É porque a vida navega
Em protesto à honestidade dos anjos,
Que te regem no caos,
Sob as velas da sorte,
Para que o amor não te seja o inverso.

26 de abr. de 2013

ÉS TU





Quem és tu, que observas o tempo
Como voraz caçador
Que apieda-se da presa...?
Que ainda não sabe perder-se
Abandonar-se
Nem temer a morte.
Mas te querem sem o momento
Um instante
E vai-se com o vento.

Serás tu, um anjo que amou em demasia
Sem temer os pesadelos
Dos homens conflitados...?
Que não sabem amar-se
Ou encontrar-se,
E vivem de apelos
Sugam os sonhos dos dias
Nos contrastes
Qual vaidosa e sonhadora Maria.

Sei que és tu, com um olhar felino
 Acaso tens pudor
Das trevas ou das luzes?
Tantas vezes vivi para perder-me
Ou esconder-me
E sempre estivemos juntos
Dentro ou fora de um ninho
À deriva da vida
Como mero inquilino.

24 de abr. de 2013

PASSADO

(Tela de Steve Hanks)


Ontem foi passado,
e nada foi passado à limpo
da memória.
Ficou no passado
tudo o que o futuro esperou.
A lembrança é presente,
que não deve ser agradecido
porque é embrulho do tempo,
é uma música doce,
gelada como o medo.
Depois vem a saudade com cara de sempre.
Pilar estúpido
de todo arrependimento,
Chora enlutada sobre o passado,
crendo que ontem é culpa do amanhã.

23 de abr. de 2013

AMIZADE




Sempre, quando a saudade chega sem nome, é no passado que se buscam forma,  cores... Os nomes.
Ah, os nomes!!!
Uns não gosto de chamar saudade porque um dia deverei visitá-los...
Já, uns tantos outros, estes sim, chamo de saudade porque tem nome, cor e forma, e chama-se 'amizade que está longe'. E toda vez que lembro vai um pensamento tão cheio de carinho, que esta pessoa tem por obrigação sentir-se feliz.
Eu deveria ir ao encontro deste sentimento, como se aqui lutasse para sobreviver a isto.
No entanto, as vidas de cada um possuem asas que só o infinito sabe manejá-las, é por isto então, que nas minhas asas carrego vestígios de tudo o que ainda posso juntar: punhados de abraços apertados, muitas risadas, tropeços... Imensa vontade de rever, e isto é meio pesado, e por isto às vezes meu voo é rasante, as asas umedecem num pranto quietinho... E fico a pensar... Se ainda voamos tudo o que tínhamos para voar, porque saudade não tem fim.

12 de fev. de 2013

Ruídos


Estes ruídos que poderiam estar mortos
a beira de precipícios,
poderiam nem existir.
Jogados e tortos,
hoje julgam meus auspícios,
e como ontem,
adiante e sempre
meus pés consomem pedras, e até risos.

E se o silêncio falar mal de aventuras,
confabulam com ruídos moucos
sem mendigar vida
em sua candura.
Juraria que todos estão loucos.
Vai seguindo errante,
por trevas enluaradas
meus pequenos planos e até meu juízo.

Quando a esperança balouça o pequeno sonho,
é hora de libertar os ruídos,
abandonar o porto,
seguir uma liberdade sem tamanho,
ouvir do passado seus gemidos.
Mas eu penso que o sofrer não é de agora,
é para o pobre e para o rico,
um ruído constante.

2 de fev. de 2013

Pequeno Ofício




Algo se assemelha ao vento quente
Quando julgo orar inclemente
Num sofrível dilema de pouco alento

Imaculada é minha prece surreal
Dedicatória ínfima, um amém banal
Fazer crer no que não creio, assim parece

Dilema, este, que me acusa ofício incerto
Lascas de um tempo afoito e esperto
Qual uma súplica desnorteada em sacrifício

É como pedir uma graça jocosa em manifesto
Jurar inocência nem sempre é protesto
Mas orar, Senhor, também não é ser religiosa.

Como Criar Borboletas


Apanhe um sonho qualquer
No mundo onde estiver
E a ele adicione a paz
Não fuja das bruxas
Nem se esconda do instante
Porque não está distante
A humilde simplicidade de ser

Coma um doce de festa
Feche os olhos em fresta
E diga sim ao teu prazer
Saboreia os espaços da vida
Porque a brisa não tem refrão
Compreenda teu coração
Só assim sairás do casulo

Se conheces as flores
Então não sentirás tantas dores
Teça asas para toda existência
E rogue ao destino para que elas não se desprendam
Aprenda a colorir a distância
Pois parte dela é tolerância
Então sim, voarás

Adicione ao léu teu futuro
Assim em teu lar não existirá muro
Persiga uma farsa, um sonho
Esconda-te na fantasia
E quando decifrares as cores
Descobrirás malgrado, a diferença dos sabores
Saberás que limites não são doces imortais

Apanhe um sopro de luz
Igual a estrela que te seduz
Bem no imo de todas as igualdades
Retenha toda audácia do amor
E agora, que o voo já alçastes
Mostre ao Universo o que criastes
E por piedade, não fuja desta árvore