O vento, quando sopra me descabela
E quando ele não sopra
Parece que arranca o silêncio
Ou varre os tetos, as paisagens
E os amores
Estes sim, se diluem
Deixando pegadas de sopros duvidosos
Sou do vento que jorra do farol
E quando a maré vaza
Parece que a água floresce
Ou vira merengue, goma de mascar
E os portos
Estes sim, contam histórias
Deixando acossados todos os sonhos
Não sei quem é o dono do vento sisudo
E quando o frio chega
Parece uma mentira escaldante
Ou uma panqueca de neve, sorvete de nuvem
E os desabrigados
Estes sim, sabem orar
Deixando seus fardos sob os olhos da esperança
Sigo o vento que embala a paisagem
E quando as cores vão embora
Parece que o mundo emudece
Ou ele carrega o pintor e a tela, o pincel
E as divagações
Estas sim, desfalecem
Deixando um odor de tinta agreste
Vou-me embora com o vento que é doido
E quando o tempo vira uma memória
Parece uma porta enferrujada
Ou traz toda vida em gotinhas, um cálice de água
E as mãos
Estas sim, moldam
Deixando que tudo permaneça como está.