13 de ago. de 2016

SEM ASAS


Ah, se eu soubesse o que existe mais adiante...
Se eu soubesse que após o ‘adiante’ ainda se segue para frente!
Se eu soubesse que tanto futuro existe, é provável que eu andaria sem sonhar em voar.
Mas os dias me prometem asas, os meses adivinham estações, os anos meus cabelos brancos...
E eu sonhando em voar!
Se alguém me perguntasse: mas voar para onde? Ah, são tantas as terras, os portos, as estações…Aeroportos? Para quê, se estaria a voar?
Então há dilúvios nas nuvens... ou será verdade que cada uma contém história aconchegantes? Há pezinhos de anjos que as afofam, e poderiam conter também todas as mentiras... Sei lá. Meu voo é rasante. Vês, joaninha o quão eu te invejo? Não temas a mim.
Posso sim, colher a flor em que te aninhas, mas a flor eu domino, e não teu voo.
E cá estamos nós a burlar fantasias.
Se eu entendesse das ciladas do destino, iria residir com os pássaros, eles sabem fugir das tempestades, não entendem de ‘adiantes’.
É provável que eu não consiga me despedir sem soluçar. Como doem as partidas!
Como demoram a sarar as feridas!
E como ficam marcadas as cicatrizes!
Continuo na busca de um lugar onde as saudades murmuram realidades. Não perdoarei o oportunismo se acaso as encontrar...Meu Deus, só com asas chegarei lá!
Que verbo imaturo este que impulsiona tantos sonhos em versos que a vida escreve, bem sei, tudo está escrito na primeira estrofe, o final já está a voar...
Por que a vida é tão bela no final do dia, e tão duvidosa na madrugada?
Quem predisse que morrer é morte?
Não sou uma haste sem vida, tampouco uma flor, mas ainda uma borboleta poupando as asas. E o que me dizes joaninha, se isto fosse verdade? Ah, não irias gostar de ver minha metamorfose.
Isto aconteceu lá adiante, distante de onde ainda nada conheço.
Ainda hão de afugentar os medos de todos estes instantes inoportunos, que chegam desvairados escancarando as parcas portas de meu coração.
Na verdade, tento pensar...Não há solução.
Tantas eras…
Perdão. Não lembro aonde guardei minhas asas.