27 de set. de 2015

AMÉM

Não há chuva, não há vento
Só há portas
Só abrem as janelas
Sacodem os tapetes
Limpam as vidraças
Acendem um fogo
Apagam a luz
Cozinham
Sempre que dizem assim é.

E vem a tempestade insana
Surge o medo
Corre-se de farpas
Molham-se as lágrimas
Caem todas as folhas
As flores voam
A criança chora
Zombam
Sempre que dizem vai passar

Um dia a vida mudo de trajeto
O destino dá adeus
A estrada fica deserta
O pó levanta cansado
O doente enxerga a lua
O padre finge compaixão
O funeral está pronto
A vida fechou a porta
Oram
Sempre que dizem adeus.

O povo teme a perda do lar
O bruto detém a força
O pobre é esperança
O rico cheira a escassez
O que pode, pode
O que não pode, pede
A tristeza é gulosa
A miséria é sutil
Injustiçam
Sempre que dizem é alienação

Um dia o tempo vai fazer cobranças
A alma vai querer o absurdo
Do humano despido
E assim vão navegando
As promessas ignotas
Passarão, contudo
Ferindo as feridas
Com curativos baratos
Pregados
Sempre que dizem amém.