26 de jul. de 2014

PALAVRAS


Tantas palavras que repousam num rascunho
Tão poucas irão voar
Outras... Estas querem ficar
Expressivas e alentadoras
Serão palavras nuas
Cruas
Vindas da vida e da morte e sem testemunho

Tantas vantagens líricas a vida lhes empresta
Sussurradas ou gritadas
Algumas... Sem alma
Num bafio desdenhoso
Até juntas ou isoladas
Amadas
Falsas, comuns ou endêmicas como uma floresta

Palavras são como as telas de tintas molhadas
Intocáveis e precisas
Pintadas... Ao gosto de cada um
Podem ser caras e não queridas
Mas jamais indecisas
Juradas
Pertencem somente às mentes não emaranhadas

As palavras do silêncio desvendam as verdades
Do princípio e de toda era
O tempo pode emudecer
Calar até a felicidade
Cair numa cratera
Dissonante
A vida é simples, mas palavras são as acuidades




24 de jul. de 2014

ONTEM PARTI


Conta-me a tua história
Sé é capaz
Fala-me umas besteiras
Mas não mexa em minha memória

E assim eu sei de ti
E não sabes
Destas bisbilhotices
Por isto ontem parti

Não cubra os olhos para chorar
A alma não é cega
Pranto não é fantasia
Desespero não faz amar

E assim hoje te vi
Agora já sabes
Que vi todas idiotices
Por isto ontem parti

Se ris do tempo que te afronta
Espera então o amanhã
Não verá minhas dúvidas
A ilusão não está pronta

E assim vou a ti
Pois tudo sabes
Colhestes só tolices
Por isto ontem parti

Toca-me o coração com tua dor
Mas é tarde
Padeceram os bons momentos
Enterrados sem amor

E assim vejo-me em ti
Como sabes
Cometer sandices!
É por isto que ontem parti

Vai-te, e carrega tua bagagem
Nada esqueça
Leve tudo o que me foi negado
Inclusive a tua imagem

E assim parte ti
Que ainda sabes
Vai ficar nas mesmices
No dia de ontem que parti.

15 de jul. de 2014

COM PESAR


Às vezes se pensa com pouco cuidado
Se pensa com tanta certeza
Pensa sem juízo...
Este livre pensar
Que se habitua a um tempo algemado

A saudade vai à cata de uma loucura
Uma saudade sem alma
Saudade da distância...
Fantasmas para saudar
Os risos, os prantos e quantas agruras!

Quem criou as passagens do tempo
Não criou com muito esmero
Criou uma confusão...
Dos que só querem criar
Uma vida dentro de um novo invento.







6 de jul. de 2014

AS CRIANÇAS NÃO TÊM MAIS AVÓS


Às vezes a ira toma conta da minha condição humana.
Quantas vezes surpreendo-me a questionar o porquê de envelhecer, se é para tornarmo-nos dependentes, frágeis, débeis, inúteis...
Sei que ouvirei argumentos divinos dos religiosos, científicos de médicos, filantrópicos de políticos, piedosos das ONGs... Argumentos que ainda não me convenceram.
Há algo de contraditório, principalmente nas religiões, crenças e seitas, quanto à imortalidade.
Falta comunicar aos incautos vaidosos que, serão eternos sim, mas não aqui. Convenhamos.
Não sou descrente, existe um mistério; creio no milagre da vida, aqui ou em outro universo, mas alguém me falar que morrer é o fim... Há algo errado, e desde o princípio.
Alguém se esqueceu de acrescentar alguma palavra no ‘texto da existência’, ou trocou os termos, lá no início da nossa história, quando ainda éramos amebas.
Os cientistas, agora começam a descobrir os mistérios do envelhecimento. Eles não sabem ainda que não há segredo, e sim, somente vida; e vida aqui, um dia vai embora.
Tanta mídia, tanto marketing em torno do assunto juventude, que começo a acreditar que o diabo existe.
Conheço pessoas com a idade de 90 anos que se submetem a horrores de masoquismo para aparentar o tal "em pleno vigor" na aparência, ao menos: academia, moda, silicone, plásticas... E vivas aos laboratórios.
Meus cabelos brancos estão em paz comigo e com a vida que trago em meu peito, não gostam de tintas, nem eu.
Estas pessoas de idade avançada que aparentam 40, 50 anos, são vazias. Inseguras e, acredite, imaturas. Estão competindo com a criançada, ridículas.
Aí está, para que envelhecer então, se é na idade avançada que está toda a nata da sabedoria e da experiência? E justamente, nesta fase, que colocaram o nome de ‘senil’, que tudo vira borrão.
É a etapa da vida onde as portas não ficam mais bem trancadas, e recebem as visitas do Srs. Alzheimer, Parkinson; Sras. Cervical, Osteoporose, mas nem todos aceitam suas amizades, e os que as aceitam resignam-se e tornam-se de fato senis.
Mas a preocupação há qual muito me faz questionar, é a da prepotência em se manter jovenzinhos e dentro desta mentalidade acontecem barbáries, distorções, pedofilia, violação de menores e vai até a maus tratos de animais, a lei protege pelo fator idade, mas eu diria que uma bela coça faria muito bem, não dizem que depois de velho se vira criança? Então. Ah, mas existem tipos que são idosos só quando lhes convém, só querem melhorar a parte de fora, carcaça.
Aparecem coisas por aí grotescas, como peitos com kgs de silicone, me perdoem os homens, mas há casos nojentos de se observar, fico imaginado tudo aquilo suado! Peitões turbinados e para baixo tudo enrugado.
Estou chegando lá, mas me pergunto: cadê o CÉREBRO?
Sei que muitos se enfurecerão com minhas colocações e questionamentos, ‘ora, quantas pessoas idosas que nos dão bons exemplos, boas orientações, aulas de sabedoria... E bla, bla´’. É isto: ‘quantas’! Mas não TODAS.
Crianças fazem coisas de crianças, os jovens seguem na sua incapacidade de se orientarem e lá mais acima um pouco, a tal glândula se acomoda e viram adultos, questão de poucos anos, o melhor da existência, mas rapidamente tudo vai despencando. Voltam a ser crianças, somente. Se ao menos voltassem à maturidade...
Reflitam antes de criticar meu desdobramento em tentar achar a parte divina de tudo isto.
Creio em Deus, é a minha existência, até este momento, porque a única coisa prática e fora de dúvidas que deve funcionar é meu cérebro, e deixo como liquidado e em suspenso o tempo que me resta.
Perdoem-me os laboratórios, os esforços científicos, os plantões de estética, os cirurgiões plásticos. Mas devo dizer que, quanto mais lapidarem as idades, menos cérebro restará, porque o tempo não se prende, mas o conhecimento, a sabedoria, a ética e o bom senso, sim. Por tudo isso penso que as crianças não têm mais avós.



4 de jul. de 2014

IDEIAS

Tão fácil falar com a boca cheia de ideias
Quando a vida é um prato cheio
Uma mesa posta
Um cálice de água
E uma oração pequenina
No meio de um anseio.

Simples metáforas pregadas numa parede
De um sonho que ainda gesta
Na tela imatura
Toda nua, sem matiz
E um pincel enlouquecido
Crendo que iludir seja uma festa

E os corredores deste hemisfério de ilusões
Pecam pela decoração acintosa
Nos absurdos dos ímpetos
Sobem e descem escadas
Como fantasmas
De uma saudade vaidosa

São tantos os tempos que foram acorrentados
Que até o coração fala desconfiado
Igual ao medo
Que urge no agora
Todo pintado de nuvens
Nas meras ideias de um dia endiabrado.