27 de set. de 2015

AMÉM

Não há chuva, não há vento
Só há portas
Só abrem as janelas
Sacodem os tapetes
Limpam as vidraças
Acendem um fogo
Apagam a luz
Cozinham
Sempre que dizem assim é.

E vem a tempestade insana
Surge o medo
Corre-se de farpas
Molham-se as lágrimas
Caem todas as folhas
As flores voam
A criança chora
Zombam
Sempre que dizem vai passar

Um dia a vida mudo de trajeto
O destino dá adeus
A estrada fica deserta
O pó levanta cansado
O doente enxerga a lua
O padre finge compaixão
O funeral está pronto
A vida fechou a porta
Oram
Sempre que dizem adeus.

O povo teme a perda do lar
O bruto detém a força
O pobre é esperança
O rico cheira a escassez
O que pode, pode
O que não pode, pede
A tristeza é gulosa
A miséria é sutil
Injustiçam
Sempre que dizem é alienação

Um dia o tempo vai fazer cobranças
A alma vai querer o absurdo
Do humano despido
E assim vão navegando
As promessas ignotas
Passarão, contudo
Ferindo as feridas
Com curativos baratos
Pregados
Sempre que dizem amém.


6 de set. de 2015

PARAÍSO


Os amores que iniciam calados
Jogando ao tempo, o tempo que não têm
Assim, de encontro às paredes
Aos muros
Até chegar ao céu
E lá jogados ficam aos pés de Deus
Suplicam
Tantos amores
Só Deus sabe como lá chegaram
São viajantes estes sentimentos fortuitos
Habitam corações que já fecharam suas portas
Ah, assim é amar
Aos pedaços
Os cenários ocultos
Usando o olhar da nobreza enluarada
Deslumbre
Há imensidão
Onde somente a vida habita livre
Há intimidade no ocaso sem o assédio da experiência
Nem todo amor quer amar tudo, contudo
Quer ficar perto de Deus
Hoje, sempre
Para amar o que existe
Seja, numa chegada ou numa partida
Inquieta
Junto ao exótico, erótico e até o paraíso
Estes amores que calam rogando....