Nada, nada é em
vão, nem quem voa, voa ao rés do chão
Quando a
chuva fica nua
E se joga nos
braços da lama
É que fico a
pensar
Se não é a
água que faz a montanha
Ou as nuvens
de roldão
Quem vai, vai
com a corrente, quem fica, fica para ser evidente
Num pedaço de
verso
Onde o
coração bate mais forte
É que fico a
pensar
Se o poeta
não é como a fonte
Tão doce... E vira uma enchente
Há tanto
mistério nos vasos floridos que ornam o cemitério
Quando alguém
ali deixa o pranto
Que as velas
se dobram caladas
É que fico a
pensar
Se o mundo
não seria só um caso
Um planeta em
adultério
Assim que a
dor se despede parece que a vida tem cor
Um naco de
tempo ferido
Deixando um
abraço inseguro
É que fico a
pensar
Nas chegadas
e partidas da alma
Como se fosse
um resto de amor
Existem
felicidades tão felizes, e tantas alegrias sem caridades!
Ai, que cruel
a omissão!
Que insana a
miséria da fartura!
É que fico a
pensar
Se o Criador
não esqueceu
De nos sonhos
colocar idades.