3 de abr. de 2016

CHEGADAS E PARTIDAS


Nada, nada é em vão, nem quem voa, voa ao rés do chão
Quando a chuva fica nua
E se joga nos braços da lama
É que fico a pensar
Se não é a água que faz a montanha
Ou as nuvens de roldão

Quem vai, vai com a corrente, quem fica, fica para ser evidente
Num pedaço de verso
Onde o coração bate mais forte
É que fico a pensar
Se o poeta não é como a fonte
Tão doce...  E vira uma enchente

Há tanto mistério nos vasos floridos que ornam o cemitério
Quando alguém ali deixa o pranto
Que as velas se dobram caladas
É que fico a pensar
Se o mundo não seria só um caso
Um planeta em adultério

Assim que a dor se despede parece que a vida tem cor
Um naco de tempo ferido
Deixando um abraço inseguro
É que fico a pensar
Nas chegadas e partidas da alma
Como se fosse um resto de amor

Existem felicidades tão felizes, e tantas alegrias sem caridades!
Ai, que cruel a omissão!
Que insana a miséria da fartura!
É que fico a pensar
Se o Criador não esqueceu
De nos sonhos colocar idades.