30 de jan. de 2014

NÃO VOLTAREI

Ah, não voltarei!
Estou tal qual a distância:
um pecado.
E do cretino, vem uma nostalgia...
Uma dor como epidemia,
não tem cura nem importância.
Para o tempo voarei.

A dúvida é uma esperança,
que medra a voz de todo infeliz,
mas não eu.
Aqui sou um fardo de linhas,
domando abelhas rainhas
encantadas com uma meretriz,
que no amor encontrou confiança.

Ah, não voltarei!
O equívoco está sem espaço,
vivendo do acaso.
Aproveito esta trégua do tempo,
para inundar-me de vento,
porque o caminho eu traço.
Se perder a luz, a fé buscarei.

Chorar, até é indecente
neste punhado de vida colorida.
Delícia é conhecer o passado!
Deslumbram-me as portas que adentrei,
é uma graça que não inventei.
Aqui, nem procuro a saída,
porque o universo é meu confidente.

29 de jan. de 2014

VIDA


A vida é densa, longa, espessa....
Corre líquida para o infinito
Há um ardente quesito:
E por onde anda este infinito?

É uma casa cheia de flores
Com tapetes de boas vindas
Todas as cores lindas
Algumas nem tão bem vindas...

É uma pergunta sempre perdida
Nascer, é um invento
E sabe-se, a contento
Que a resposta está no tempo.

Que Universo moldou a vida?
Será o mesmo e para sempre?
A quem é inerente,
Se tempo, vento e vida é para sempre?

Lágrimas e risos não fazem flores
Amor, sim, é grande semente
Não somos andantes somente
Na mão de quem criou a semente.

27 de jan. de 2014

INSIGNIFICÂNCIAS

A distância que o tempo anda
É total, inumana, sem tolerância
É capaz ainda de alcançar o espaço
E vencer toda ignorância

Não perderei este fato
De aqui ficar em foco
Mesmo sem tato
Ainda sou semelhança

Quando findar a guerra e a glória
A alma e a dor irão acarinhar
A trincheira do futuro vazio
Crendo num Deus de paz para abençoar

Não terei todos os dias
Para o mesmo sorriso
Viverei à sombra do Messias
Pois nem a mim sei perdoar

Poderá existir a mesma saudade
No suspiro de todas as infâncias
Pois o Universo é só uma porta
E sonhar, é um punhado de insignificâncias

Não roubarei a serenidade
De onde colho uma flor
Andarei com generosidade
Posto que meus pés estarão sob vigilância

25 de jan. de 2014

PECADO CAPITAL

Pecar é um sentido equivocado de perder-se
E sempre que a culpa aparece
Pode ser nada
Pode ser tudo
Mas nunca é para sempre

Todos os pecados foram criados e não cometidos
Uma arma fatal para morrer na culpa
Sempre o medo
Sempre a fuga
Mas nunca a cura para a alma

Os pecados são todos insípidos e derrocados
Cometidos na intenção de conservar a fé
Causa ideal
Causa banal
Aprendi que morrer sem viver é o pecado capital.

24 de jan. de 2014

CASA PREDILETA

Minha casa predileta
Possui uma estradinha fininha
Com pedras redondinhas
E uma saudade dileta
Nos fundos há temperança
Uma horta de vontades
Frutinhas de vaidades
E cerquinha de esperança
Há um riacho debochado
Canta sonolento
Sempre depois do vento
Qual sapo todo inchado
No pomar tem variedades
Cores de irmandades
Amor de todas as idades
Para a terra contar verdades
Em minha casa predileta
Há uma noite noturna
Uma lua diurna
Uma estrela irrequieta
Para os lados há espaços
Gramas fresquinhas
Ervas daninhas
E sonhos em pedaços
O jardim contém amores
Pequenos e perfeitos
Sementes sem defeitos
Sem nomes e com sabores
Há uma porta e vida bela
Enfim, é casa arrumadinha
Só tem uma escadinha
Para eu ficar na janela.

22 de jan. de 2014

AO RELENTO

Reflexo aguçado de um pântano em flor
Onde pegadas incisivas
Por vezes desvalidas
Perambulam feridas curando uma dor

Um trecho convexo de análise oculta
Drenado em filosofias
Onde passo meus dias
Tentando liberar minh’alma adulta

Quando o caminho adentra uma curva
Agarro-me ao sol
Oculto-me sob a lua
Acolhem-me assim, uma imagem turva

Pedinte de flores, canções e lamúrias
Aninho miados
Acolho latidos
Leio as lápides borradas  de injúrias

Ouço o estridor das dores nos olhos fechados
Orando em máculas
Gemendo para o poder
Que não amaina seus corações isolados

Cá está a mão aberta sem adeus e sem fim
Jejuando os calos
Aventurando a paz
Os mais serenos dizem que eu sou assim

20 de jan. de 2014

ÀS VÉSPERAS

Antes de nascer vive-se a vida
Está mais viva a vida
Quando se espera nascer

No início do Universo há um verso
Que fala da espera da esperança
Mas antes, é na véspera do inverso

Criaturas com sementes ou semeadas
Misturadas ao musgo das sementeiras
Aguardam manifestos dos semeadores

É quando, às vésperas, une-se a Terra
Ao Pó, à Água ao Ar...
E ao Fogo funde-se a vida e a morte

Antes que aconteça este enlace virginal
Prepara-se a existência de uma sentença
Ah, melhor sentir a boda na véspera!

Porque na festa a natureza descansa
E se a ninfa dança e o desejo alcança
É Deus, quem a colore e a gesta

18 de jan. de 2014

VERDADE É UMA SÓ


É uma montanha solitária,
cujo pico toca o céu
e a poucos homens...
É uma mulher nua
envolta de dignidade.
Fecunda como o Universo,
mas só o tempo a ela se junta.
Verdade é uma só.
É um animal inocente
preso à inteligência oculta,
sob a matiz da luz,
que o homem apagou.
É um presente que oferto,
e é o que sonho em ganhar...
mas a outro presenteio,
que o desperdiça ao vento.
Verdade é uma só.
É uma flor da pedra
gestada sob o sol e a lua,
na certeza de nascer sempre flor,
na pedra, no vaso ou no túmulo.
É uma lágrima abandonada
no rosto da piedade,
junto ao mistério
dos que ainda virão...
É um pedido de perdão
onde o socorro foi abandonado
sem juízo
totalmente nu...
É desespero dos fortes
sempre que a fome avança.
É também a idéia da morte
que a vida planta.

15 de jan. de 2014

AO RIO QUE PASSA


De líquido manto inspirador
Carrega em teu dorso o canto
Conduz a dor e o pranto
Do amante ao pescador

Em cascatas chora despedidas
Mas é em gotas que implora
À paz que foi embora
Para bueiros levando vidas

Se não paralisasse meu peito
E tua vertente não secasse
E minha alma aqui ficasse
Deitar-me-ia em teu leito

Mergulhei criança em teus braços
Apesar de manter a esperança
Ainda peco por desconfiança
Porque são fortes os nossos laços

Meu doce, solitário e lento rio
Não quero ver-te num sudário
Sei que subirei o calvário
Porque tua vida está por um fio.



14 de jan. de 2014

BODAS DE DIAMANTE

Toda uma vida existe num contexto, mas ainda não está completa, vai de meta em meta,
E continua em testes.

Assim descrevo a amizade, sentimento ainda para ser descrito. Pode configurar no melhor texto, mas fica melhor se for de coração para coração.

Com perdão ou sem perdão, tanto faz, é verdadeira. A verdade é sempre justa. Mas sempre mais escuta do que fala. Amigo não sente mágoa.

Se ficares gorda(o) tudo bem, e ficares magra(o), vale também, amizade não tem peso, tem compreensão.
Nem veste moda, veste uma toga, da cor que escolheres. O verdadeiro amigo está sempre de grau colado.

E se a vida está em testes, saindo ainda do torpor, por favor, que nasça primeiro a amizade, mais adiante o amor, porque para o amor é necessário bem mais que a lealdade. Primeiro então, a amizade.

Se o casamento chegar às Bodas de Diamante, creia, sem uma grande amizade jamais teria seguido adiante.

Quando se é imaturo, nascendo ainda para as derrotas, existem inúmeras portas, sem escolhas criteriosas, mas são tão laboriosas!

Por todas as mudanças que o amor te fará passar, levará contigo grandes perdas, ganharás, olvidarás... Serão caminhos destinados iguais para toda humanidade, mas a maneira de senti-lo ou repudiá-lo contará com o ombro extra que Deus nos deu, repleto de humildade, será aquele, o qual nutre amizades. Impossível será não senti-lo.

Em toda nossa existência pecamos e comungamos com a vida e a morte, e com sorte nos unimos e casamos até com amigos.
Faz-se guerra, sucumbe-se ao inimigo... Mas crime maior é perder um amigo.

Quando o homem descobriu o diamante, triunfante acreditou que com ele poderia controlar a vida, mas foi derrotado pela pedra. A vida ainda vai sendo estudada, porque bem antes da festa da descoberta, no leste ou no oeste, o homem procurava amigos e não pedras.

Então, a Boda de Diamante que para muitos soa distante, é um trunfo para um casal que soube juntar no mesmo caminho o que os levará novamente para o altar. Um grande sentimento que o amor chama de amizade.

Se envelheceres sem um amigo, quase nada importa, porque toda tua história nasce e finda ignota.


13 de jan. de 2014

PASSAGEIRA

Esta vida
que às vezes desgraça,
que sempre vive...
Eu sou um privilégio,
comum ser humano.
Sou um nada atroz
observando...
Escutando...
Calada.
Sou um “se”,
antes do “após”,
que em nada permanece
diante de tudo.
Sempre aqui, acolá...
bem além da minha dor.
Dos traços descritos
sou início de ponto
sou um “por vir, talvez....”,
Nas notas trêmulas
de uma música doentia.
Começo apoucado de uma grande composição.
Sou feto prematuro,
sou a decisão que padeceu,
sou pergunta gritante
sem bocas que falam.
neste tempo inédito,
nestes meros segundos.
Fratura do destino...
Eu sou o que vejo:
muita desgraça.
muito medo de ser quebrada.
Sou uma “ideia” das pedras,
um pouco além do mundo.
Sou indecisão
que pensa em nascer.

12 de jan. de 2014

Morrer

A morte é coisa
Trágica
Difícil e organizada
Certeira
É também incerta
Morrer não é tão simples
É preciso viver até ela
Isso é penoso
Viver é que é fácil
No calor da existência
Necessário sentir-se vivo
A ingratidão de não viver
É dolorosa
Nada vem do céu
Além da espera
Mas quando há luta entre
O incrédulo e o crente
Aviltam-se
Perde a força o perdão
E a súplica aparece
Então morrer é terrível
Porque a vida se esvai
Qual orvalho no deserto
Nem a velhice resolve acontecer
Porque foi olvidada a honra
De aceitá-la
Natural que se morra
Sem hora, sem alarde...
Ao acaso...
Sem tempo certo
Pode ser até cruel
Mas morrer é sempre real.

11 de jan. de 2014

Botando Ovo e correndo de Minhocas

Se saudades fosse vida, eu jamais morreria.
Havia, na minha infância, uma maneira de se viver sem horários. Acho que isto não é observado só por mim, e quando me descobri, assim como gente, observava que as pessoas corriam esbaforidas, tanta coisa iam fazendo.
Uma lamentação total! Mas que coisa sem graça, pensava eu. Tanta coisa elas fazem, estas pessoas grandes, mas não conseguem brincar com a gente pequena. Crescer dói. Será? Doeu.
Lembro da Anita, traquina e introspectiva, éramos amiguinhas de ‘artes’ e escola.
Mas ela era diferente de todos. Perspicaz, mas uma grande amiga.
– Sai do galinheiro, Nita – Gritava sua mãe.
– Estou esperando o ovo ‘nascer’– Dizia ela – Vou levar ele aí quentinho.
E ficava lá até a galinha botar o ovo, quase apanhando-o com a mão. Existe maravilha mais exuberante do que a infância junto à natureza? Por certo que não.
Certa vez, Anita me contou em segredo, tinha horror às minhocas.
– É que minha mãe levou um tremendo susto, de tremer. Foi quando eu estava dentro dela, pegou uma minhoca na mão sem querer e quase desmaiou, aí eu tremo também até hoje.
– Hum, mas minhoca não morde e nem veneno tem, e estamos a brincar até com cobras!
– Ah, mas a minhoca dá pulinhos... Nem pensar. A cobra se enrola ou sai correndo – Dizia ela.
Bom que sendo inocentes, não pensávamos nos adultos, eles sim, viviam aos berros.
Tínhamos amor aos animais. Anita escondia até filhotes de ratos, e quando os ‘homens’ da casa iam caçar, ela olhava para eles com mil suspeitas, não tinha medo das armas, mas do resultado que elas trariam.
– Ódio, que ódio! ­– Ela dizia e chorava, depenando passarinhos.
– Depena. – Sua mãe dizia – A vida é assim.
– Passarinho está morto não é assim: ‘vida’! Então pra quê criar galinhas, porcos...?
– Filha, há uma grande abundância na natureza, a família é grande, entenda.
– Prefiro descascar amendoins.
E lá íamos as duas sangrar o coração da infância junto às penas dos passarinhos.
O pior foi o desplante do padre Quide, parente de Anita.
Engaiolou um gato como se fosse um coelho, depois do tempo esgotado ele preparou um magnífico jantar com a receita de uma massa ‘especialíssima’ com carne de ‘coelho’. Na verdade, todo mundo comeu gato, só ficamos sabendo uns dias depois.  Tínhamos uns cinco anos de idade e jamais esquecerei, pois Anita, a lamentar-se, dizia:
– Ele é um padre sem pensamento. Não vamos mais à igreja quando ele rezar a missa.
– Não, claro que não. Jesus viu isso, e está do nosso lado.
Mas qual! Missa era como ir para a escola. Mas Anita não deixou por menos. Juntas, entrávamos pela porta da frente como santas, e fugíamos pela porta da sacristia.
– Aha! Comedor de gatos, me vinguei! – Dizia ela.
Mas minha amiga era muito peralta, acompanhá-la não era fácil e certa feita aconteceu.
– Jesus, é oito horas, cadê Anita? – Sua mãe, alvoroçada, se aquietava.
A vizinhança já se preparava para a vigília noturna e eu junto, aliás, era a que mais chamava.
– Anitaaaaaaaaaaaaaaa!
– Nitaaaaaaaaaaaaaaa!
– Nitinhaaaaaaaaaaaaaa!
As várias maneiras de se chamar um animalzinho de estimação na infância surtiam bons resultados, menos para com Anita.
Noite avança... E de repente, chega Anita esbaforida com metade da saia (naquela época não se usava calça comprida) e só um chinelo. Ela não esperou ninguém perguntar, foi atropelando as palavras e desabafou.
– Me perdi no mato! Fui comendo amoras. Havia muitas! Era escuro no mato.
Pisei num formigueiro, foi lá que ficou o chinelo. E depois tinha uma terra macia, me pareceu ter minhocas, aí eu corri muito. Parei e sentei num tronco. E vim embora, mas não dava certo, ia parar sempre no mesmo tronco. Então comecei a andar retinha, só que tinha muito galho e quase perdi a saia. E saí, oras.
– Viu que ‘oras’ são? Viu que até o padre Quide estava a tua procura?
– Mas tinha tanta amora, tanto ninho de passarinho...
– Santa penitência. A infância é um cordeirinho nos braços de Deus! É por isso que as crianças são protegidas. – Disse padre Quide.
Eu não esqueci as palavras dele, por causa do cenário do momento da ‘aparição’ de Anita. Havia muito vagalume. Era noite de verão sem lua, onde eles pareciam estrelas refletidas em tudo, no chão, nas mãos, nas árvores...
– Parecem anjinhos. – Anita observou.
– Então foram eles que te trouxeram de volta, repicou sua avó.
A noite não foi muito tranquila, mas, ao amanhecer, foi um estardalhaço de sol, rios, pássaros, balidos, relinchos... E o grito de Anita.
– Ela está botando o ovo! Teremos patos, patinhos e não só pintinhos.
A bem da verdade há alguns meses tinham acolhido uma pata com uma machucadura no pescoço, mas a pata melhorou e ficou pelo pátio, e como no vizinho haviam patos...
Minha amiga estava sempre de prontidão, volta e meia levantava o rabo da pata para uma checagem de fatos, e nada.
E nesta manhã ela foi bisbilhotar o galinheiro e viu a pata agachada, aí sucedeu o melhor, o ocaso da infância botava mais um ovo.
– Santo Deus, para quê tanto fiasco por causa de um ovo de pato? – Disse sua mãe.
– É da pata, mãe. Ela vai ter patinhos! O ovo dela é igual a tua barriga quando João nasceu. Fecha ela na casinha, para ele crescer.
– Não sei o que faço com tanta imaginação dentro de uma criatura tão minúscula! – Exclamou sua mãe.
Hoje eu diria que realmente a imaginação era tanta, mas tanta, que se não fosse a infância, nem sonhar saberíamos.
Sentadinhas na ponte, contávamos os dias para o Natal. Eram planos que só Deus sabe até hoje.

– Há um pinheiro com uns galhos bons para armarmos a árvore de Natal. Eu subo com a serra, não conta para o meu pai, e te alcanço o galho... E a gente achou por aí...
Também não sabíamos que gente grande fazia de conta que acreditava. Se não fosse isso, não teríamos tantos anjos nessa etapa da vida.
Dói saber que hoje não se cortam mais galhinhos, e sim as árvores inteiras.
Assim fomos crescendo, amargando a realidade. A Infância estava quase subindo no muro, e foi nesta época que Anita começou a sossegar.
Fomos tomar banho de rio e de uma pedra ela se jogou, como sempre fazíamos, mas o rio havia baixado e ela deu com a testa em uma rocha. Não ficou nada apresentável.
Exames, observações... Mas salva.
– Alguém está roubando a água dos rios. – Foi seu comentário.
Hoje sabemos que não há como roubar a água dos rios.
Anita é bióloga atualmente, ela sabe como os rios secam, assim como fica um tanto árida aquela vontade de ser inocente, e não se pode mais voltar.
Das saudades, a maior, é a de ter sido infantil.



Fim

Quando se está de pé no topo do mundo, parece-nos que nada finda.
Na metade do caminho vislumbra-se uma onda que chega ao mar...Que decepção! Ela se quebra.
Mas um belo dia, descobre-se que além de findar-se o topo, ao chocar-se com a onda, caminha-se forçosamente para um risível temor de nada mais ver ou sentir...Mas descobrir que por muito pouco alcançaríamos a outra margem. Que ilusão! Para lá só se vai sem saber que se foi.